Por Alexey Dodsworth Magnavita*, Biscate Convidado
No anúncio da morte da tão querida Elke, seus familiares citaram uma frase grega: “Eros aníkate mahan”, que pode ser traduzida como “o amor é invencível nas batalhas”. Essa era uma frase bastante repetida por Elke nas mais diversas situações. Como a mulher cultíssima que ela era, falante de oito línguas com assombrosa fluência, conhecedora do grego e do latim, Elke certamente leu “Antígona”, de Sófocles. Foi desta obra que ela tirou a frase que funcionava como sua invocação pessoal.
Falemos sobre o contexto da frase: Antígona, na mitologia, é filha da relação incestuosa entre Édipo e Jocasta e, por isso mesmo, filha de um destino inescapável. Antígona é o fruto de um encontro que, não importa o quanto se desejasse evitar, estava fadado a ocorrer.
A ironia é que Antígona, filha deste destino inescapável, é a imagem da desobediência diante do poder autoritário. No mito, ela deseja oferecer os devidos ritos de sepultamento a Polyneikes, seu irmão morto, contrariando as determinações do rei. É como se do enlace inescapável entre Édipo e Jocasta, nascesse seu exato oposto: aquela que desobedece, que enfrenta o poder vigente, nem que isso a prejudique. Com seus atos, Antígona está mandando a ordem externa às favas e fazendo o que ela sabe que deve ser feito. Consequentemente, ela termina dando a vida por seus princípios éticos.
E é por isso que o amor é invencível nas batalhas: os humanos eventualmente vencem, eventualmente caem, eventualmente triunfam, eventualmente perdem. O amor, não. O amor sempre vence, mesmo que isso nos destrua. Se Édipo tiver que amar Jocasta, nada há de impedir. E se Antígona tiver que enterrar seu irmão, ela o fará mesmo que isso a mate. Porque ninguém pode desafiar a vontade do amor.
A oração completa, evocação, clamor ou hino, como vocês preferirem, é a seguinte:
“Amor, tu que és invicto nas batalhas!
Amor, tu que destróis as riquezas!
tu que manténs tua vigília na face macia de uma donzela!
tu que caminhas sobre as águas
e entre as casas dos moradores dos desertos!
nenhum imortal pode escapar-te,
nem tampouco os homens que vivem por apenas um dia,
e aquele para quem tu viestes é louco!
Apenas eles mesmos têm suas mentes por ti urdidas para o mal,
para suas próprias ruínas.
Tu, que despertas a contenda entre parentes,
Vitoriosa é a luz ascendente do amor que brota dos olhos da noiva;
Tu que és o poder entronado no balanço ao lado das leis eternas
por onde a deusa Afrodite urde sua vontade indomável.
Amor, tu que és invicto nas batalhas!”
*Alexey Dodsworth Magnavita é doutorando em Filosofia Política e Ética pela USP e pela Università Ca’ Foscari de Veneza, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, escritor de literatura fantástica e tem mania de ganhar concursos de culinária na Itália fazendo comida baiana com ingredientes locais. É um biscateiro da vida.

Olhos marejados. Obrigada.
Obrigada!
Uma vez eu a ouvi dizer isso e aquilo mexeu comigo … decidi que eu qria tbm ser “dona” dessa frase rs … assim como Elke era “dona”, mas qria entender pq tal frase mexeu tanto comigo, eis q decido coloca – la como tatuagem … mas antes eu tinha q saber mais. Pesquisando cheguei aqui, pra firmar a frase e sabado ela vira tatto rs pra eu ter como “minha” Eros aníkate mahan” ( o amor é invencível nas batalhas)